terça-feira
























sei que o barco ondula nesse mar de fogo que afasta
que a rosa se detém na pupila dos teus olhos e é viva a espiga nos poemas da cidade.
a cidade é uma espécie de miséria pulsando junto ao coração.
cria vozes que surdas te movem, arquiva limpo
o amor no silencio dos pássaros, a terra
redobra os lábios e lança a palavra
que não verte. dentro
da pulsação tudo arde
e o amante leva à boca o arbusto sufocado
junto-me aos homens que têm sede e deserto na garganta
às mulheres que adoecem no teu colo.
sei que o amor é à tua porta
que na circulação do sangue é o coração que sustém o fogo.
arrumo a casa, estendo roupa na varanda alta e pressinto
que posso ouvir-te
mesmo que morra cega de choro
e de astros.

sei que é possível espetar a espada no muro que divide
pisar os animais e os filhos que morrem
não ter mãos e calar sempre.

Fotografia de Elena Vasileva.

Sem comentários: