sexta-feira


























o homem pediu-lhe baixinho para que ela não morresse
para que espreitasse os dois vasos que ele lhe tivera falado
ainda na terça-feira passada, agora ali na janela, próximos,
um ao lado do outro. a mulher sorriu-lhe, lembrou-se
do que lhe acontecia às mãos e aos dedos quando indicavam
o trajecto de uma rua ou à água que caía dos telhados
nos meses de chuva. havia pessoas nos cafés que não falavam
umas com as outras e lembrou-se disso também, da palavra
helicóptero que sempre tivera muita dificuldade em pronunciar,
da idade em que as despedidas não eram longas e era só
a linha dos olhos e a insistência de um novo olhar na direcção das coisas.


fotografia de susana miguel