sexta-feira

às vezes aquilo que dizíamos fazia muito pouco sentido
para os outros. ficávamos surpreendidas com o número de eléctricos
que passavam àquela hora e num domingo não era habitual apetecer-nos rir e
inventar uma paisagem no tempo que nos lembrasse
um destino, a antiguidade rodeada de casas e de séculos a crescer à altura
dos olhos de quem as conseguisse ver. e ali estávamos nós as duas
a imaginar uma vida para cada um dos botões que íamos vendo passar
cosidos e bem seguros aos casacos de outras mulheres. penso
em ti e na saudade a única maneira de amarmos as metades e escrevo
(agora forrada a tecido) nesta caixa: apontamentos
sobre a morte e um coração.