quarta-feira

o comboio chegava sempre à estação do cacém às 18 e 01 e eu aparecia
logo, 2 minutinhos a seguir, perto de ti e agarrava-te o braço depois
de atravessar o túnel e de dizer olá ao joão do sapateiro que vendia
pensos rápidos e também colecções de isqueiros enquanto as moedas cresciam
nos bolsos e mais um mês e vou-me embora para a minha casa da terra.
o meu abraço, a minha voz e só depois o teu sorriso a reconhecê-la
e às árvores todas também e ao outono que cabia dentro delas nessa tarde.
eu sei, agora não é novembro, mas há quem ainda fale dele e da tristeza que é
acontecer-nos a morte numa cidade que não a nossa. uma vez disseram-te
que era necessário esquecer tudo, que não havia mal nisso e era verdade
os teus olhos ganhavam a forma mais líquida do mundo
e da cegueira, dizias-me: poderíamos dar-lhe o nome de saudade.